JOSÉ LOUZEIRO E O CASO ARACELLI (1973)



Nascido em São Luis do Maranhão, José Louzeiro (1932 – 2017) foi um escritor, roteirista, jornalista e autor de novelas. Destacou-se por ter atuado durante 20 anos como repórter policial.

A experiência, aliás, foi importante para que ele se tornasse um dos pioneiros no país do romance – reportagem (gênero consagrado pelo escritor americano Truman Capote) e uma fonte preciosa para diretores de cinema. Um exemplo disso foi o livro “Lucio Flavio, o passageiro da agonia”, de 1976, que mais tarde foi adaptado para o cinema, com enorme sucesso.





Outro romance – reportagem marcante foi “Araceli, meu amor”, sobre o assassinato de Araceli Crespo, aos 8 anos de idade em Vitoria, em 1973. Ao esmiuçar o crime, Louzeiro chegou à conclusão que os culpados eram membros da alta sociedade da cidade. Por esse motivo, seu livro foi proibido pela censura.

Aos 8 anos, em 18 de maio de 1973, a menina Araceli foi estuprada e assassinada a dentadas pelos filhos da elite de Vitoria, Dante Michellini Jr. , e Paulo Helal, mas julgados, foram absolvidos pela polícia, Justiça, militares e governantes durante a ditadura.




Em entrevista ao programa Arquivo N da Globo News, Louzeiro comentou sobre o caso:

“Araceli era uma menina especial, especial, educada, falava direito quando já conhecia a pessoa, muito quietinha e muito inteligente. Quando crescesse, queria ser professora”.





Sobre Dante Michellini Jr e Paulo Helal ele disse:

“Jovens ricos, jamais alguém podia imaginar quer estivessem envolvidos com crimes como do caso Araceli, e bastava uma palavra deles, que os advogados se encarregavam de enfeitar e eles eram inocentes.”



A respeito do livro ele comentou como foi o trabalho de pesquisa:

“Eu passei uns dois anos colhendo material, devo ter ido umas 50 vezes escondido para Vitória. Eu fiz essa investigação com ajuda do perito Asdrubal de Lima Cabral, o repórter Jorge Elias do jornal Última Hora e a fotografa, Edinalva Tavares, minha mulher na época.”, disse José Louzeiro em entrevista à repórter Cecília Luerdeman ao site Brasil de Fato, em ocasião do relançamento do seu livro em 2013.

“Eu nunca ouvi as fontes oficiais, eu nunca acreditei nelas, sempre desconfiei. Ouvia todos nas ruas, eles a cozinheira, a enfermeira, o motorista, a prostituta e até o funcionário do bar onde a menina foi metida na geladeira. Depois fui descobrindo outras testemunhas, como a namorada de Jorge Helal, a Marislei, o policial Homero Dias que trabalhava no serviço secreto da Policia Militar, enviado para investigar o crime, todos eles foram sendo eliminados (...). O livro – eu tenho muito orgulho disso – é uma reportagem. Sempre tive a necessidade não sei por que, de me comprometer com a verdade, doa a quem doer, até a mim mesmo. Porque até perdi o emprego por causa disso. Então cheguei aqui, nos primeiros 80 anos e no que puder ajudar para a memória de Araceli, pode contar comigo”.



Em 1980 Paulo Helal e Dantinho (Dante Michellini Jr.) foram sentenciados a cumprir 18 anos de reclusão e o pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros (moeda da época). Dante de Brito Michellini foi condenado a 5 anos de reclusão . Pesou sobre ele a acusação de ter mantido a menor em cárcere privado por dois dias no sótão do seu bar.

Os acusados recorreram da decisão e o caso voltou a ser investigado. O Tribunal de Justiça do Espírito Santo anulou a sentença e o juiz Paulo Copolio, escreveu uma nova sentença de mais de 700 páginas que absolvia os três acusados por falta de provas.

“Naquele tempo tudo era muito precário. A policia que era o personagem principal, a protagonista que mandava e desmandava, então muito difícil saber quem matou quem, e o tempo se passou e na verdade hoje se pergunta:  Pode –se acusar pelos crimes que praticaram? É difícil. Você vai acusar baseado em que?” disse José Louzeiro sobra o rumo das investigações sobre o caso no programa Arquivo N.



Em 2016, o irmão de Araceli, Carlos Cabrera Crespo, quebrou o silêncio e lembrou a dor que a família viveu todos os anos depois da morte da menina à TV Gazeta.



“A gente convivia muito e eu sinto muita saudade dela. Apesar de todo esse tempo, não passa um dia que eu não penso nela. Todos os dias da minha vida eu me lembro dela. Depois da morte dela, meus pais se separaram. Minha mãe foi para Bolívia e quando retornou ela e meu pai decidiram se separar. Ele se casou e minha mãe também se casou de novo. Ela teve duas filhas e meu pai teve uma filha e um filho. Ele faleceu em 2001, já minha mãe é viúva e está muito doente, com princípio de Alzheimer, problema na vesícula e já não está muito bem de saúde”.




Sobre os acusados ele disse:

“Eu acredito muito em Deus, acho que a Justiça dos homens falha, tem muitos erros, e vai falhar sempre, mas a Justiça de Deus, essa aí não tem jeito. É uma certeza que tenho, só pelo fato de que se foram eles, porque eu não posso afirmar categoricamente, eu não sei. Se foram eles, já sofreram bastante e vão sofrer mais, porque quando chegar lá em cima as contas vão ser postas em pratos limpos e aí é que vamos ver”.



Embora permaneça um mistério, o dia 18 de maio, o do desaparecimento de Araceli, foi instituído como Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a partir de 2000.

“A menina não vai voltar, mas estamos falando aqui dela. E ela será motivo de consideração durante muitos anos”. José Louzeiro.



Fontes de pesquisa



Sites:

www.g1.globo.com

acervo.oglobo.globo.com

www.gazetaonline.com.br


Imagens:

www.g1.globo.com

www.gazetaonline.com.br


Videos:

www.youtube.com






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