"TUDO OU NADA" e "MANIA DE QUERER" - Duas preciosidades do acervo da Manchete (Parte I)

“Tudo ou Nada” e “Mania de Querer”: duas preciosidades do acervo da Manchete - parte I

por Duh Secco




Em 1985, a Manchete lançou sua primeira novela, “Antônio Maria”, malsucedido remake da vitoriosa produção da Tupi, de 1968. Em 1986, o canal de Adolpho Bloch experimentou seu primeiro êxito no gênero: “Dona Beija”, estrelada por Maitê Proença, causou reações em todo o país e intensificou a guerra de audiência, colocando a emissora em vantagem frente às concorrentes ao segundo lugar. O sucesso da produção estimulou a continuidade da faixa, com “Novo Amor”, de Manoel Carlos. Mas a ousadia maior se deu em setembro daquele ano, com a estreia de duas produções, uma delas batendo de frente com o “Jornal Nacional” e outra, por conta do horário eleitoral, concorrendo diretamente com a trama global das 20h, “Roda de Fogo”.

Os dois folhetins, guardadas as devidas proporções, partiam praticamente de um mesmo ponto: duas moças de classe média envolvidas por rapazes de origem nobre e suas famílias, cheias de posses e problemas. “Tudo ou Nada”, de José Antônio de Souza (estreando como autor de TV), era protagonizada por Elizangela, recém-saída da vitoriosa “Roque Santeiro” (1985); “Mania de Querer”, de Sylvan Paezzo, trazia Nívea Maria, um dos destaques da minissérie “Anos Dourados” (1986), na linha de frente. Herval Rossano respondia pelo núcleo de ambas, assessorado por David Grimberg e Lucas Bueno em ‘Tudo’ e por Luiz Antônio Piá e Walter Campos em ‘Mania’.

Lançadas com uma semana de diferença (uma no dia 15; outra no dia 22), as duas novelas contaram com o mesmo número de capítulos, 161. Para abrir um novo horário para a teledramaturgia, a Manchete adiantou seus jornais locais, o lendário “Manchete Esportiva” e o “Vota Brasil”. “Tudo ou Nada” estreou às 19h40, antecedendo o horário eleitoral; substituta de “Novo Amor”, “Mania de Querer” era exibida às 21h30, na sequência da propaganda política – posteriormente, o “Jornal da Manchete” ocupou a faixa entre as tramas. Por conta dos programas eleitorais, “Roda de Fogo” também era exibida às 21h30; “Mania de Querer”, porém, jamais prejudicou a audiência da Globo.

Infelizmente, quase não há informações sobre os enredos de “Tudo ou Nada” e “Mania de Querer”. Naquele tempo, o jornal “O Globo”, preciosa fonte de informação em casos do tipo, trazia apenas os resumos das novelas exibidas pela emissora-líder. Edições da revista “Amiga”, da Bloch Editores – grupo responsável pela Manchete –, perderam-se com o tempo. Há exemplares disponíveis na internet, como os do acervo do querido Césio Vital; porém, com pouco, ou praticamente nada, de material acerca das novelas em questão. Abaixo, um resumo “detalhado”, na primeira parte deste especial, de “Tudo ou Nada”.




O folhetim de José Antônio de Souza – um dos autores de “Rabo de Saia” (1984); colaborador de “Grande Sertão: Veredas” (1985), minisséries da Globo – acompanhava a relação de Guadalupe (Elizangela), tipo popular, do bairro de mesmo nome, da Zona Norte do Rio de Janeiro, com a endinheirada família Barroso. Ela se emprega na empresa do clã, instalada na Zona Sul, onde seu pai, Perácio (Lafayette Galvão), trabalha como contínuo. A então secretária desperta o interesse de seus dois patrões: Ambrósio (Othon Bastos, egresso de “Selva de Pedra”, 1986) e César Augusto (Edwin Luisi), pai e filho; Ambrósio, no entanto, é comprometido – casado há anos com Ema (Vanda Lacerda).


Para desgosto desta, o filho, César Augusto, desposa Guadalupe. Mas, durante a lua de mel, o problemático rapaz desaparece em meio a uma investida, sozinho pelas ruas do Chile, em busca de cigarros. De volta ao Brasil, sem o marido, Guadalupe enfrenta a hostilidade da sogra Ema e as investidas do sogro Ambrósio; ainda, um novo interesse romântico, Marino Portobasso (Gracindo Júnior, galã de “Dona Beija”), além de Dodô (Fernando Eiras), o vizinho pagodeiro que sempre a desejou, desprezando o carinho ofertado por Odete (Ângela Rebello), melhor amiga da protagonista.

Com “Tudo ou Nada”, José Antônio de Souza propôs uma nova visão do clássico “Cinderela”: o que acontece com a Gata Borralheira após o casamento com o príncipe encantado? Guadalupe se unia a César Augusto – antes noivo de Odila (Bia Seidl) – numa cerimônia cheia de pompa e circunstância, enquanto a mãe dele, contrária à vontade do filho, levava flores ao túmulo que “inventou” para o rapaz. A cena, exibida no primeiro capítulo, indicava o comportamento amoral, e insano, de Ema – que marcou a volta de Vanda Lacerda às novelas, gênero do qual estava afastada desde “Sinal de Alerta” (1978). O sumiço de César Augusto, aliás, estava relacionado ao mau-caratismo da mãe, de quem foi cúmplice num plano para eliminar o pai.

O casamento com Guadalupe se deu após César Augusto “falhar” no plano traçado por Ema, de envenenar Ambrósio com arsênico. Já o sumiço do rapaz escancarou as ações criminosas da matriarca dos Barroso: ligações com um bandido de nome Fumacinha (ator não creditado), executado na Baixada Fluminense, e investigações do delegado Capella (Felipe Wagner) sobre o caso despertam o interesse da repórter Baby Paraná (Suzana Abranches), aliada de Guadalupe no caso. Enquanto isso, a “heroína” passa por toda sorte de privações: tem seus bens, herdados de César Augusto, bloqueados, levando a manobras de Ambrósio, Marino e do advogado Salomão (Abrahão Farc) para supri-la financeiramente.


O terror psicológico dominou a relação Guadalupe - Ema. A vilã chegou a manter a nora e Odila sob a mira de um revólver, enquanto exibia pertences de César Augusto, como a primeira fralda utilizada pelo menino. Posteriormente, Ema acabou disparando contra Guadalupe, dentro de uma igreja, após tomar conhecimento da decisão da Justiça, assegurando à moça a posse dos bens do marido desaparecido. Evidente que a protagonista se recupera; de visual renovado, assume a dianteira da “César Empreendimentos”, apostando na produção de “minigeladeiras”, com o auxílio de Gigi Bourbon (Theresa Amayo). Mas a notícia de que César Augusto “morreu” durante uma caçada a terroristas, alvo de uma granada, faz água no negócio da suposta “viúva”.



Mas eis que, tempos depois, César Augusto reaparece, desmemoriado. Nesta ocasião, Guadalupe e Marino estavam afastados; Ambrósio, cada vez mais apaixonado pela nora, havia se separado de Ema. O remorso, porém, faz com que o empresário se afaste, em definitivo, de Guadalupe. É que, ao deixar a casa da mãe – após arriscar-se convencê-la a se unir, outra vez, ao pai –, César Augusto sofre um acidente automobilístico. A morte do filho reaproxima Ambrósio e Ema, temporariamente, mesmo estando ela na mira das investigações sobre o acidente do herdeiro. Surge então um novo triângulo: Guadalupe, Marino e Odila (Bia e Gracindo formaram par em “Dona Beija”).


Marino também se via às voltas com a ex-mulher, Nininha (Fátima Freire): o casamento, marcado pela violência doméstica, culminou com a partida dela para Paris e uma tentativa de suicídio por parte dele, ingerindo veneno. Nininha, contudo, buscava a reconciliação. Ainda, Dulce (Marilu Bueno), que recorria a despachos para trazer o marido, sumido, de volta; e Berta (Aldine Muller), a amiga desquitada, e muito bem resolvida, de Odila. Além das mazelas de Adalgisa (Isolda Cresta), ex-prostituta, devotada ao filho Dodô – ela ansiava ver o malandro, motorista de táxi, longe da criminalidade que a rondou ao longo de toda a vida.

Por fim, a família de Guadalupe: o pai Perácio; a tia Vevé (Mirian Pires), católica fervorosa, virgem como Maria; a irmã mais velha Zélia (Denise Bandeira) e o cunhado Ginaldo (Breno Bonin), donos de uma quitanda, atormentados por uma gravidez indesejada e pelo ciúme que ela sente da ex dele, Soraia (Dulce Bressane); o irmão Adilson (Mário Cardoso), que invejava a irmã, por ela ter “migrado” da Zona Norte para a Zona Sul do Rio de Janeiro, buscando sempre uma oportunidade de casamento por conveniência; e a caçula Leninha – vivida por Marcela Muniz, que chegou a namorar o colega de elenco, Heraldo Galvão (Rony), durante as gravações.


No último capítulo, nada menos do que 14 casamentos, celebrados nos pés do Cristo Redentor, com direito a revoada de pombos, presos em um bolo cenográfico de cinco andares: Tereza (Ana Maria Nascimento e Silva) e Rômulo (Aldo César), Regina (Clarimunda) e Prequeté (Theobaldo / Roberto Marquis, o guarda Juju, de “A Praça é Nossa”), Josmar (Carlos Gregório) e Jacqueline (Karen Accioly), Honório (Roberto Orosco) e Arlete (Odete Barros), Wenceslau (Ankito) e Adalgisa, Vera (Tetê Pritzl) e Rony, Soraia e Batuta (Ivan de Almeida), Jorjão (Guilherme Karan) e Dulce, Gigi e Alarico (Carlos Alberto), Adilson e Fabíola (Virgínia Campos), Dodô e Odete, tia Vevé e Perácio, Marino e Odila e, por fim, Ambrósio e Guadalupe. Infelizmente, não encontramos informações sobre o desfecho de Ema.


“Tudo Ou Nada” chegou ao fim em 21 de março de 1987; nesta mesma sexta-feira, a Globo exibiu o último capítulo da exitosa “Roda de Fogo”, às 20h30.

A novela foi reprisada em duas ocasiões. A primeira, de 3 de agosto de 1987 – menos de 5 meses após o término às 19h40 – a 11 de março de 1988, com 155 capítulos, dentro da faixa “Romance da Tarde”, que já havia reapresentado, desde agosto de 1986, as minisséries “Viver a Vida” (1984), “Santa Marta Fabril” (1984) e “Tudo em Cima” (1985) e as novelas “Antônio Maria” e “Novo Amor”. Durante o repeteco, a Manchete deslocou a sessão das 14h para 18h00; a contemporânea “Mania de Querer” a substituiu.

Em 28 de setembro de 1992, a Manchete resgatou “Tudo ou Nada”, então alocada às 19h30. O folhetim, condensado em 39 capítulos, se estendendo até 14 de novembro, serviu de tapa-buraco após o fim do horário eleitoral, voltado para eleições municipais, preparando a faixa para a mexicana “Valéria e Maximiliano”.

“Tudo ou Nada”, aliás, ganhou uma versão mexicana, dirigida por Herval Rossano: “Caminos cruzados” (1995), com Ariel López Padilla e Mariana Levy.



Fontes de pesquisa:

 Acervo Césio Vital, Acervo Folha de São Paulo, Acervo O Globo e TV-Pesquisa.

Comentários

  1. QUEM TEM ESSA NOVELA???SERÁ Q A NETFLIX REPRISARIA ELA ??? SOUBE Q FOI EXIBIDA EM PORTUGAL ,,FOI SUCESSO POR LÁ !!!! SE A NETFLIX SE INTERESSAR EM REPRISÁ-LA EU ASSISTIRIA !!!

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  2. Eu adorava o núcleo rico dessa novela especialmente a Ema que morreu no fim da novela

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  3. Essa novela era demais.
    Novela cômica, eu não perdia um capítulo. Gostaria de rever se algum ainda conseguisse recuperar as fitas da manchete.

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