4 comédias de 'empoderamento feminino' do final dos anos 80


#Mofista23: 4 comédias de 'empoderamento feminino' do final dos anos 80 

por Daniel Couri




Não faz muito tempo, a palavra “empoderamento” mal era utilizada. Para ser mais exato, a expressão “empoderamento feminino” foi a responsável por colocar o termo na boca do povo. O uso do tão falado empoderamento passou a ser associado à luta das mulheres por seus direitos. Em pouco mais de um par de anos, “empoderamento feminino” se tornou figurinha fácil no dia a dia, presente em discursos políticos, programas de TV, bate-papos entre amigos, propagandas, revistas, jornais e redes sociais.

Mas, ao contrário da expressão, a luta das mulheres é antiga, como sabemos. No cinema não é diferente. Exemplos não faltam. Outro dia, revendo aleatoriamente alguns filmes que faziam a nossa alegria da Sessão da Tarde, na década de 1990, notei que as protagonistas eram mulheres bem donas de si. Independentes, inteligentes, batalhadoras, sagazes e bem-sucedidas (e até meio megeras, em alguns casos).

Trinta anos atrás, filmes que colocavam mulheres destemidas no centro da ação já antecipavam esse empoderamento. No curto espaço entre o final de 1987 e o final de 1989, pelo menos quatro comédias mostraram figuras femininas fortes e determinadas brigando por seu espaço tanto pessoal quanto profissional na selva machista reinante. Nos quatro exemplos, as mulheres arrasaram. Hollywood resolveu mostrar que elas também podiam ser as donas do pedaço. Os filmes, estrelados por atrizes maravilhosas, obtiveram sucesso e popularidade.





Presente de Grego (Baby Boom, 1987)
Direção: Charles Shyer
Com: Diane Keaton, Sam Shepard, Harold Ramis

J.C. Wiatt (Diane Keaton), uma executiva de meia-idade em Manhattan, dedica-se totalmente ao trabalho e a seu namorado Steven (Harold Ramis). Prestes a atingir um dos postos mais altos da empresa na qual trabalha, a independente J.C. vê sua vida virar de pernas para o ar ao “herdar” a guarda de Elizabeth (Kristina e Michelle Kennedy), uma bebezinha filha de um parente distante que morreu. Totalmente despreparada e sem o menor jeito com bebês ou tarefas domésticas, J.C. acaba se envolvendo com a encantadora criança e assume sua educação. Como cuidar da pequena e dedicar-se à sua carreira nos negócios é algo incompatível, ela perde o emprego. Disposta a recomeçar do zero, muda-se para o interior com a bebê e compra uma casa. Aos poucos, vai aprendendo a contornar as dificuldades e a lidar com Elizabeth. Envolve-se com Fritz Curtis (Sam Wanamaker), um veterinário da região. E surge a grande surpresa: indiretamente, a luta do dia a dia para cuidar da bebê faz com que J.C. alcance um sucesso que ela nunca havia antes imaginado, tanto profissional quanto pessoalmente.




“Nosso filme é sobre alguém que nunca planejou ser mãe”, disse, na época, Nancy Meyers, produtora e roteirista do filme. “A comédia vem da total inaptidão de J.C. para lidar com essa surpresa. Se fosse dez anos atrás, Presente de Grego provavelmente teria sido protagonizado por um homem, pois o público não acreditaria que uma mulher pudesse ser tão mal preparada para a maternidade quanto a personagem. Só recentemente, com o grande impulso feminino em direção à carreira e ao sucesso, é que esse tipo de história se tornou crível.”



A bebê Elizabeth foi, na verdade, interpretada pelas gêmeas Michelle e Kristina Kennedy, de um ano e meio. O filme ainda originou uma série de curta duração (13 episódios) no ano seguinte, exibida durante 1988 e 1989.








Cuidado com as Gêmeas (Big Business, 1988)

Direção: Jim Abrahams
Com: Bette Midler, Lily Tomlin, Fred Ward

Na pacata Jupiter Hollow, uma cidadezinha do interior dos EUA, dois pares de gêmeas univitelinas nascem no mesmo dia, na mesma hora e no mesmo hospital. Uma enfermeira troca, por acidente, dois bebês de lugar e duas delas são criadas por um casal rico. As outras duas, por uma família simplória do interior. Sadie (Bette Midler) e Rose (Lily Tomlin) vivem a vidinha simples e rural, enquanto suas gêmeas da cidade grande (de nomes também Sadie e Rose) estão à frente da Moramax, uma multinacional poderosíssima. Acontece que a empresa pretende acabar com Jupiter Hollow para lucrar alto com uma negociata. Por esse motivo, mais de três décadas depois, os caminhos das gêmeas se cruzam no luxuoso Plaza Hotel, em Nova York. Uma das comédias mais divertidas dos anos 1980, na minha opinião. O curioso é que o filme foi originalmente escrito para Barbra Streisand (papel de Bette Midler) e Goldie Hawn (papel de Lily Tomlin). Mas Bette Midler e Lily Tomlin estão impagáveis e dão um show. E, embora elas interpretem irmãs gêmeas, Tomlin é na verdade seis anos mais velha que Midler.



O plano original era usar dublês de corpo para Bette Midler e Lily Tomlin, com protótipos idênticos. Como os resultados foram desastrosos, de acordo com o diretor Jim Abrahams, a idéia acabou rejeitada. Em vez disso, os efeitos para as gêmeas foram produzidos pela Industrial Light & Magic (de George Lucas), após cinco meses de pós-produção. Cuidado com as Gêmeas foi um dos vários filmes daquela época produzidos pela Touchstone Pictures, divisão da Walt Disney que produzia filmes para o público adulto, como Por Favor, Matem Minha Mulher (1986), Um Vagabundo na Alta Roda (1986) e Que Sorte Danada! (1987).



Quem estava escalado para interpretar o caipira romântico Roone, par romântico da personagem de Lily Tomlin, era ninguém menos que José Wilker. Mas o ator desistiu e o papel foi dado a Fred Ward.


Foi o primeiro trabalho de direção solo de Jim Abrahams depois de Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu (1980), Top Secret! Superconfidencial (1984) e Por Favor, o Matem Minha Mulher (1986) que ele havia feito com David Zucker e Jerry Zucker.








Uma Secretária de Futuro (Working Girl, 1988)
Direção: Mike Nichols
Com: Melanie Griffith, Harrison Ford, Sigourney Weaver

A doce e ingênua Tess McGill (Melanie Griffith) é secretária em um escritório de Nova York que lida com o mercado de ações. Demitida, consegue um novo emprego com Katharine Parker (Sigourney Weaver), uma conceituada executiva, e expõe suas ousadas ideias à nova chefe, na esperança de crescer na carreira. De origem humilde, Tess não é formada e nem sabe se vestir de forma apropriada. Quando Katharine quebra a perna e precisa se ausentar do escritório, Tess aproveita-se da ocasião e se faz passar por executiva, tomando o lugar da chefe. Propõe uma arriscada — porém inteligente — jogada financeira a Jack Trainer (Harrison Ford), um grande empresário. Tudo daria certo se não fosse por um detalhe: Tess se envolve romanticamente com Jack, que é namorado de sua chefe Katharine. Para piorar, a chefe rouba suas ideias e Tess corre o risco de voltar para a rua da amargura e perder Jack.


Sigourney Weaver e Melanie Griffith acompanharam de perto a rotina de várias executivas e secretárias em suas agitadas jornadas diárias em Nova York, para terem uma idéia do mercado empresarial do ponto de vista feminino. Curiosamente, Michelle Pfeiffer e Meryl Streep foram consideradas para os papéis de Tess e Katharine, respectivamente. Brooke Shields queria muito o papel de Tess. Kathleen Turner, Cher, Geena Davis, Debra Winger e especialmente Shelley Long também foram consideradas para interpretar Katharine. Diane Lane e Sarah Jessica Parker também estavam em negociações para interpretar Tess. Na primeira versão do roteiro, a personagem que acabou se tornando Katharine Parker era um empresário, e não uma mulher.



As três protagonistas femininas — Melanie Griffith, Sigourney Weaver e Joan Cusack (amiga de Tess) — foram indicadas ao Oscar pelo filme, em interpretações cativantes. As filmagens, no entanto, não foram tão simples: Melanie Griffith estava numa batalha pessoal contra o vício em drogas. Por diversas vezes, seus atrasos e faltas prejudicaram a produção. Mesmo assim, o filme é dela. Griffith tinha sido elogiada pela crítica em Dublê de Corpo (1984) e Totalmente Selvagem (1986), filmes que não fizeram sucesso nas bilheterias. Ela ainda era desconhecida do grande público quando Uma Secretária de Futuro foi lançado, no final de 1988, com enorme sucesso de crítica e de bilheteria. Mas o diretor Mike Nichols bateu o pé e exigiu Griffith. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Nichols dirigiu filmes emblemáticos como Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), A Primeira Noite de um Homem (1967) e Closer: Perto Demais (2004), entre outros.



Uma Secretária de Futuro foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção, além de ter recebido o prêmio da Academia na categoria Melhor Canção Original, com Let The River Run, composta e cantada por Carly Simon, e ter recebido Globos de Ouro na categoria de comédia.







Ela é o Diabo (She-Devil, 1989)
Direção: Susan Seidelman
Com: Meryl Streep, Roseanne Barr, Ed Begley Jr.

Mary Fisher (Meryl Streep) é uma escritora de romances açucarados de segunda categoria. Famosa, bela, rica e cercada de frivolidades, Mary vive como se estivesse em um de seus livros. Por outro lado, a desleixada e gorducha Ruth (Roseanne Barr) é uma esposa e mãe que vive para a família e para tentar agradar seu marido, o contador Bob (Ed Begley Jr.). Sempre em segundo plano, Ruth faz das tripas coração para que o marido progrida sempre.



Certa noite, Ruth, que havia acompanhado o marido em um jantar de trabalho, acidentalmente derrama vinho no vestido de Mary, que também participava do evento. Bob corre para reparar o deslize e ajeitar a situação, limpando o vestido de Mary. Os dois se olham um no olho do outro e sentem um desejo fulminante à primeira vista. Após alguns encontros clandestinos, Bob abandona a desajeitada Ruth e seus dois filhos para morar à beira-mar no palacete de Mary Fisher. Mas depois de 15 anos de casamento com Bob, Ruth não engole a traição e, cheia de ódio, decide se vingar. Ela, que ajudara o marido a subir na vida, não vai deixar barato. Primeiro vai destruir a vida particular de Bob, depois sua carreira e, por fim, a liberdade dele. Mas no meio de todo esse processo, Ruth adquire autoestima e aprende o valor de sua independência.



Da mesma diretora de Procura-se Susan Desesperadamente (1985), Ela é o Diabo é uma livre adaptação de The Life and Loves of a She-Devil, livro de Fay Weldon, que havia sido publicado em 1983.


Antes de fazer este filme, Meryl Streep foi questionada sobre sua capacidade de fazer comédia. O sucesso de Ela é o Diabo provou que Meryl podia ser tão boa na comédia quanto no drama. Jeff Daniels, Jeff Bridges e Harrison Ford chegaram a ser cogitados para o papel de Bob.




Daniel Couri é jornalista, natural de Muriaé (MG), nascido em 1979. 
Autor do blog Porcos, elefantes e doninhas, e dos livros "Made in Suécia - O paraíso pop do ABBA" (Editora Página Nova, 2008) e "Mamma Mia!" (Panda Books, 2011) . 

Link do blog do Daniel Couri: porcoselefantesedoninhas.blogspot.com
Twitter: @danielcouri


Fontes de pesquisa

Imagens:
www.ocafe.com.br
cinemafanatic.files.wordpress.com
m.media-amazon.com
images6.fanpop.com

Videos:
www.youtube.com












Comentários

  1. Delicia relembrar esses filmes de sessão da tarde vi todos

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  2. Filmes deliciosos com ótimas mensagens, o meu preferido entre eles é "Ela é o Diabo", que jamais canso de rever. Filme comandado por mulheres, a vingativa, a vilã...
    E foi este filme que 'me apresentou' a gigante Meryl Streep só depois que assisti aos anteriores dela que a consagraram tanto.

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