A FESTA NUNCA VAI ACABAR, RONALDO RESEDÁ

#Mofista20: Ronaldo Resedá, o garoto da Kitch Zona Sul.




O nome Ronaldo Andrade de Moraes pode parecer comum ou até desconhecido, mas basta dizer que ele ganhou ganhou o apelido de “kid discoteca” (quando a disco music estourou no Brasil ) que todos saberão de quem estou falando.


Trata-se de Ronaldo Resedá, nascido no Rio de Janeiro, em 1945. O showman quis largar a faculdade de arquitetura no último ano para se tornar um dançarino, depois de uma conversa com uma amiga que também cursava arquitetura junto com ele.


“Eu conversava com uma colega quando ela me disse que queria ser chacrete. Fiquei impressionado com sua coragem. Imaginem uma futura arquiteta – chacrete! Mas foi a partir da ousadia dessa moça que eu vi que era possível realizar o meu sonho também. Queria dançar, cantar, virar artista. Minha família, porém, era um empecilho.”


Seu pai era militar. Os seis irmãos também não viram com bons olhos o jovem Ronaldo abandonar a faculdade para se matricular na academia de dança do saudoso mestre Lennie Dale (sim, aquele  que aparece todas as tardes na abertura de Baila Comigo, no canal Viva). No entanto, Ronaldo terminou a universidade.

Após se formar, Resedá trabalhava num escritório de arquitetura, até que surgiu sua primeira oportunidade profissional, o musical Pippin, em 1974. A peça, de Stephen Schwartz, com  direção e coreografia de Bob Fosse, conta a história de Pippin, filho do rei Carlos Magno, que sai em busca de um sentido para sua vida. A montagem brasileira foi dirigida por Flávio Rangel. Para ensinar a coreografia aos atores, Gene Foote, o coreógrafo assistente de Bob Fosse, veio diretamente dos Estados Unidos. Gene se impressionou com a desenvoltura de Resedá e disse a ele num dos intervalos dos ensaios: “O Brasil precisa de um artista como você: um show man por excelência!”



O próprio Ronaldo contou em uma entrevista da época: “Não dava para dividir [a vida de arquiteto e de bailarino]. Depois de oito meses, quando acabou o espetáculo, desisti de ser arquiteto e fui dar aulas de jazz para pagar o aluguel do meu apartamento.”

Foi assim que ele conheceu gente como Marília Pêra, Marco Nanini, Zezé Motta, aliás foi ele quem ajudou a dirigir, ao lado de Gerson Conrad (ex-Secos e Molhados) um show dela, além de ajudar na coreografia. Ainda em 1975, participou de um festival de rock organizado por Nelson Motta, o Saquarema Rock, fazendo covers de músicas dos Mutantes, Rita Lee e Secos e Molhados, ente ourtros.




Em 1976, atuou ao lado de Marília Pêra, Walmor Chagas, Marco Nanini  no sucesso  Deus Lhe Pague, peça escrita por Joracy Camargo, adaptada por Millor Fernandes e dirigido por Bibi, Ferreira, com músicas de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. Paralelamente, Ronaldo coreografou uma peça infantil, A Verdadeira História da Gata Borralheira, de Maria Clara Machado e dirigido por Wolf Maya. No ano seguinte, participou da comédia A Infelicidade ao Alcance de Todos, escrita por Lauro Cesar Muniz e dirigida por Antonio Pedro. 









Em fevereiro de 1978, estreou um show no Teatro Sesc Ginástico, no qual cantava músicas de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Rita Lee, Eduardo Dusek,  e Angela Rô Rô,  entre outros. Em março, iniciou o espetáculo Pra Começar de Novo, no qual tentava se firmar como cantor. Deve ter sido nesse período que algum produtor musical da TV Globo ou da Som Livre o descobriu, pois ele viria a conseguir um contrato com eles.

Ronaldo entrou em estúdio para gravar duas canções que seriam lançadas em compacto. No lado A, Sapateado, composta por Guto Graça Melo e Paulo Coelho, que apresentava o artista Resedá para o público, exaltando suas qualidades como cantor e dançarino.  No lado B, Kitch Zona Sul, composta por Robson Jorge e Lincoln Olivetti.



Ambas as canções foram compostas e gravadas especialmente para lançar Ronaldo  comercialmente nas paradas de sucesso. Não demorou muito para que ele alcançasse o estrelato. Kitch Zona Sul chegou ao topo das rádios e a consagração veio com a música incluída na trilha da novela Dancin’ Days e no videoclipe no Fantástico, em julho de 1978, no qual cantou e dançou ao lado da atriz e também bailarina Heloísa Millet (1948-2013).






Com o sucesso de Kitch Zona Sul, Ronaldo Resedá chegava no final do ano fazendo várias apresentações. Porém sua estrela iria brilhar mesmo no ano seguinte, quando seu single Sapateado entrou para trilha da novela Feijão Maravilha. Mal sabia ele que havia sido escolhido para cantar o tema da próxima novela das 7, Marron Glacê. Foi com essa missão que ele entrou nos estúdios da Sigla durante os meses de maio e julho de 1979 para gravar seu primeiro e único álbum, intitulado Ronaldo Resedá, cujo carro-chefe era a faixa Marron Glacê, composta por Mariozinho Rocha, Guto Graça Melo e Renato Correa.











Produzido por Max Pierre e com arranjos de Lincoln Olivetti, o LP contou com composições de artistas como Rita Lee e Roberto de Carvalho, que forneceram as inéditas Bobos da corte e Pif-paf, sendo que a primeira ganharia a voz da sua compositora só quatro anos depois no álbum Bombom. Outra canção inédita, desta vez de Jorge Ben Jor (na época Jorge Ben) com o samba-disco E novamente mais que nada, uma regravação de Fuzarca na discoteca, de Guilherme Arantes, que ele lançara em seu álbum Ronda noturna (1977).

O álbum, com uma pegada disco muito forte, fez sucesso naqueles tempos dançantes, tocando em várias festas e bailes e fez Ronaldo viajar por todo o país, com direito a um novo clipe no Fantástico em agosto de 1979, para divulgar a canção da novela que estrearia no dia seguinte.

Fazendo shows por todo Brasil, Ronaldo declarou à revista Ilusão, de novembro de 1979: “Atualmente não estou envolvido com ninguém, por causa de tudo que vem acontecendo comigo. E nem quero que pinte um amor, por enquanto. Minha preocupação maior é me tornar popular, entrar de cabeça, pra valer, na minha profissão. Não estou evitando o amor, estou disponível, só que não me interessa que aconteça agora.”




Na nova década que se aproximava, ele continuaria a crescer cada vez mais,  seguindo o rastro de sucesso iniciado apenas dois anos antes. Apresentou-se em vários programas de TV, além de marcar presença no quadro Geração 80, atração dentro do próprio Globo de Ouro e que anos depois ganharia uma versão fixa nos domingos da Globo. Além disso, participou do especial Grandes Nomes de Rita Lee , em novembro de 1980, onde dançou a canção Baila Comigo, numa espécie de retribuição pelas composições que Rita e o marido Roberto de Carvalho deram pra ele cantar em seu disco de estréia.



Mas meses antes ele havia entrado novamente em estúdio para gravar um novo single. A idéia era repetir o mesmo sucesso de Marron Glacé. A faixa Plumas e Paetês, escrita por Eduardo Dusek e Luiz Carlos Góes, era alegre e debochada, mas sem o apelo disco do tema anterior, e que foi escolhida pra ser tema da novela de mesmo nome escrita por Cassiano Gabus Mendes e Sílvio de Abreu.



Sem o sucesso esperado, e a versão que foi  para a trilha oficial da novela tem menos de um minuto. A Som Livre não chegou nem fazer um compacto com a canção. Foi a RGE que lançou um compacto simples com o tema, na sua versão integral, e do outro lado a canção Quero me entregar pra você, que fez parte da novela Marina (1980).







Com passar do tempo, sem muitos convites para shows e sem novas propostas das gravadoras, Ronaldo Resedá  chegou a apresentar o Som Pop, programa de videoclipes na TV Educativa (atual TV Brasil). Participou do espetáculo dos Dzi Croquetes, voltou a se apresentar em casas de espetáculos , fez a coreografia da peça A Noite do Oscar, de Luis Carlos Mendes Ripper, em 1982, e foi um dos apresentadores do programa Quanto Mais Quente Melhor, da Rede Record, junto com Zezé Motta, Denise Bandeira e Luis Sergio Lima e Silva em 1983.



Sem gravar um disco desde que cantou o tema de abertura de Plumas e Paetês, Ronaldo bancou do próprio bolso um disco independente pelo selo Voo Livre com as canções Fada Safada e Rolo e Me Rôo. Mas nem chegou a lançá-lo comercialmente. O cantor estava numa depressão profunda e com graves problemas financeiros. Começou a sentir fortes dores de cabeça e constantes perdas de visão, o que o deixou bastante debilitado. Para piorar, ainda  contraiu hepatite. Foi nesse momento que ficou constatado um problema cerebral, um edema.



Além dos medicamentos, ele precisava de repouso absoluto, mas a vontade de continuar a carreira fez com que ele excursionasse pelas cidades de Imperatriz e Carajás, no interior do Maranhão. Mesmo bastante debilitado, cumpriu os compromissos, mas foi internado no Maranhão com diagnóstico de tumor cerebral. A partir dali, ele entrou em coma, vindo a falecer no dia 12 de setembro de 1984, com apenas 38 anos.





Apesar do fim repentino de uma carreira tão promissora, o que talvez muitos não saibam, além do grande artista que ele foi, é que ele exerceu também seu lado escritor. Graças ao amigo Vicente Pereira, que transformou uma idéia de Ronaldo em peça musical chamada Terra de Gigantes, encenada no Teatro do Planetário em 1987. No libreto de apresentação do espetáculo, Vicente comenta:

“Ronaldo um dia me procurou e me falou dessa idéia de um superespetáculo infantojuvenil, que falava da transcedência do estado comum do homem, através do coração, para um estado superior. Para ele o coração seria o centro de consciência do ser. A princípio evitei, nunca quis escrever nada para crianças, mas movido por admiração por estar assistindo a uma pessoa se descobrindo e deslumbrando com a amplidão do horizonte das possibilidades humanas, resolvi, sem muita inspiração, alinhavar suas idéias que estavam no conto que ele escrevera há algum tempo. E se há algum mérito nesse material, é exclusivamente dele. Da procura dessa terra de gigantes!”




Diferentemente do que muitos comentaram ou que foi noticiado na época, Resedá não faleceu de AIDS. Busco, com este post, derrubar esse mito. O importante é que hoje, 34 anos após seu falecimento, Ronaldo Resedá ainda é lembrado por seu talento e sucesso, tanto nas artes cênicas, quanto como cantor. Seja em festinhas e clubes que relembram a época das discotecas, seja nas suas canções, no qual seu álbum lançado pela Som Livre foi remasterizado e comercializado pelo selo Descobertas, Resedá – como traduziu bem a letra da canção Marron Glacé – nos deixou uma grande lição que ele levou consigo até o fim de sua vida: a festa nunca vai acabar.



Agradecimento especial: Daniel Couri.



Fontes de Pesquisa:

Imagens:
www.memoriaglobo.com
www.mercadolivre.com
www.youtube.com
memoria.bn.br

Videos:
www.youtube.com 
Todos direitos reservados das canções, pertecem à Som Livre e TV Globo LTDA.








Comentários

  1. Maravilhoso! Obrigado pela postagem,Tião!

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  2. Obrigado por visitar meu humilde blog e por curtir o texto Sidney. Obrigado pelo carinho.

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  3. " Este deixou saudades imensas mesmo...lembro-me bem da repercussão de sua morte em Setembro de 1984, mesmo que eu tivesse apenas meus 6 anos...pena que o nosso país tem memória fraca e poucos valorizam os artistas talentosos como o Ronaldo que se foram eternamente..."

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  4. Tião, faltou apenas vc colocar o clip de Kitch Zona Sul...mas mesmo assim, parabéns pelo belíssimo trabalho !

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    1. Ricardo, obrigado querido por visitar meu humilde blog. Eu tentei colocar o clipe, mas a Som Livre, q é da Globo não autorizou a postagem devido à direitos sabe... uma pena, mas valeu a intenção. Obrigado pelo carinho!!!

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  5. Entendi...mas pelo menos poderia ter feito o print de uma parte do vídeo e posto aqui...edite e faça isso ! Abraço !

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  6. Muito boa a postagem. Não conhecia esse artista, uma historia alegre e triste ao mesmo tempo. Como os sonhos podem ser tragados pela indústria do entretenimento, tem que ter muita cabeça pra suportar tanto o sucesso quanto fim dele.

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  7. Ronaldo foi um excelente artista! Deixou saudades!

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  8. Encantada com essa matéria,eu tive o prazer de conhecer o Ronaldo era fã de carteirinha dele,ia aos programas de TV,estava em todos os bastidores de TV,ele era maravilhoso,até hoje sinto saudades dele,obrigada por está postagem.

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  9. Ronaldo Resedá foi grande artista,adoro as músicas dele !!! Sem dúvidas, ele partiu cedo demais

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  10. Melhor e mais completo artigo sobre a trajetória do Reseda...Parabens...

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  11. Abaixo da imagem dancin days tem a foto de "Lauro corona" Não entendi o motivo dessa foto estar ai.

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  12. Saudades imensa desse grande artista. Não sei como nunca fez nenhuma participação em novela. A Fatalidade o levou mas viveu intensamente, isso sim é importante.

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  13. Muito obrigado por esse registro sobre a história do cantor.

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