#Mofista17. O "atrapalhado" filme dos Trapalhões.
1983.
Divergências internas entre a R.A Produções e a DeMuZa
Produções chega ao seu ápice. Na época a R.A Produções, empresa criada e
dirigida por Renato Aragão e seus filhos cuidava de toda parte administrativa
da marca “Os Trapalhões” que era de propriedade de Renato Aragão, enquanto a
DeMuZa foi criada a fim de administrar os ganhos dos outros integrantes, Dedé,
Mussum e Zacarias.
O estopim da briga era justamente a divisão de lucros que
segundo os funcionários da DeMuZa era injusta e pouco transparente, enquanto a R.A Produções sempre privilegiava o
lado de Renato Aragão e deixava os outros companheiros sempre em desvantagem.
Resultado dessa contenda, a separação do quarteto tanto na telinha quanto na
telona.
Enquanto Didi seguiu sozinho com o programa dominical na
Globo, tendo outros atores ampliando a lacuna deixada por Dedé, Mussum e
Zacarias, os três dissidentes curtiam umas férias forçadas ou como está em voga
hoje, um período sabático até que a situação chegasse a um ponto em definitivo.
Porém certo dia, Mussum ao ler uma nota num jornal
anunciando o novo filme de Renato Aragão, O Trapalhão na Arca de Noé, sem os
seus ex - companheiros de velha data, ele se reuniu com Dedé e Zacarias e ambos resolveram
contra atacar realizando um filme para rivalizar com o do Renato. Seria então a
primeiro e único filme do trio sem o Didi, batizado de Atrapalhando a Suate.
Na matéria, Os ex – trapalhões em novo filme, da Folha de
São Paulo de 9 de outubro de 1983, já era possível ter uma pequena noção ou
ideia do que seria o novo trabalho do trio, sem o “professor” Didi.
“A sorte está lançada, Dedé, Mussum e Zacarias estarão nas
telas sem o líder do grupo “Os Trapalhões” em dezembro com uma comédia bem
pastelão. Atrapalhando a Suate é o título do filme orçado em 225 milhões de
cruzeiros, que além dos três, tem outra estrela, Lucinha Lins. Nenhum deles
parece duvidar do sucesso do filme, já que se trata de um primeiro investimento”.
Segundo relata Juliano Barreto em seu livro Mussum Forévis:
Samba, mé e Trapalhões (São Paulo, LeYa, 2004) os bastidores da realização do
longa foram bastante movimentadas.
“O argumento e o roteiro da produção precisaram ser feitos
em tempo recorde: 15 dias. Dedé bolou uma história reaproveitando o quadro da
Suate, quadro esse que marcou a estréia do quarteto na Rede Globo em 1977 num
programa especial que fora exibido na Sexta Super, antes do lançamento do
programa dominical oficial, ele também convidou Victor Lustosa para ser seu
braço direito na produção e direção do filme. Mussum ficou responsável por musicar as cenas
imaginadas pelo Dedé e Zacarias foi designado a negociar autorizações para
locações, conquistar patrocinadores, alugar equipamentos e contratar equipe de
filmagem.”
Obviamente sem os recursos financeiros da R.A Produções,
Atrapalhando a Suate foi realizado em tempo recorde para estrear antes do novo
filme de Renato Aragão. Para mim que assisti ao filme, 35 anos depois de sua estreia,
foi uma experiência no mínimo curiosa e um tanto maçante. No longa Dedé, Mussum
e Zacarias integram o grupo tático da Suate, um batalhão especial da policia
destacado para missões especiais.
Como os três só aprontam trapalhada atrás de trapalhada, o
comandante do esquadrão os encarrega de uma missão: proteger uma caixa nuclear
de cair nas mãos de terroristas perigosos e levar em segurança para um laboratório,
pois se a caixa explodir ela poderá causar um grande estrago, pior até mesmo
que a explosão de Hiroshima (?), os trapalhões
são auxiliados pela destemida Tenente Vera, que em meio à missão acaba
sequestrada pelos bandidos. Agora, expulsos da corporação, os amigos agora nas ruas decidem agir por conta própria e salvar o dia. Para tal
feito, eles contam com a ajuda de Juca, chefe dos escoteiros e, namorado
de Vera.
Mesmo com esse roteiro simplíssimo,
o clima do filme é do bom humor pastelão, característico do grupo do programa
de TV, Dedé, Mussum e Zacarias diferentemente dos últimos filmes do quarteto
estavam em menor destaque, aqui eles atuam de forma uniforme, todos tem a mesma
quantidade de falas e importância na história, apesar do protagonismo da fita
ficar a cargo da experiente Lucinha Lins e do seu par João Bourbornnais.
O filme investiu muito em cenas de
perseguições e em números musicais, além de ser uma estratégia para baratear os
custos de produção, diferente do filme do Didi que apostou em efeitos especiais
super modernos para época e de um orçamento bem maior para realização do seu
filme, acabou por garantir uma agilidade incrível, não cansa o expectador
claro, mas mostra uma precariedade grande evolução já que as piadas são
mínimas.
No entanto é importante ressaltar
que o filme em si não é ruim, é como se estivéssemos assistindo a uma esquete
dos trapalhões sem um dos integrantes, o que ocorria no programa da Globo, mas
talvez a pressa em realizar o projeto deixou tudo muito além das expectativas.
Para o público infantil os dois
filmes lançados nos cinemas em dezembro de 1983, foi um prato cheio como
descreve Juliano Barreto em seu livro:
“Pela falta de outras opções, as
crianças ficaram com os dois. Nos anos anteriores era comum ver os filmes dos trapalhões
mais de uma vez, por isso, ver dois filmes diferentes era mais uma oportunidade
de variar do que escolher. O amor incondicional da molecada pelos palhaços pouco
importou no final das contas”.
No fim o saldo não foi positivo nem
pro lado da R.A Produções e muito menos pro lado da DeMuZa. Atrapalhando a
Suate foi assistido por 750 mil expectadores arrecadando mais de CR$570 milhões
enquanto O Trapalhão na Arca de Noé superou a marca de 1 milhão de pessoas
faturando CR$800 milhões, a diferença foi que o filme do Renato foi lançado em
mais salas de cinema, foram ao todo 105 salas espalhadas pelo Brasil contra 63
do trio, outro grande diferencial foi o bom relacionamento da empresa de Renato
junto à Embrafilme, na época a maior distribuidora de filmes nacionais do país
que preferiu promover o filme de Didi, empurrando o filme do trio pro chamado “segundo
circuito”, salas com capacidade menor e piores endereços.
Por fim Atrapalhando a Suate foi a
primeira e única empreitada do trio no cinema, no começo de 1984 o quarteto
acertou suas rusgas e retomaram a parceria tanto na TV e no cinema.
Curiosamente o filme nunca ganhou uma versão em DVD, enquanto todos
os outros filmes da trupe foram remasterizado e restaurado ganhando um Box luxuoso
lançado pela Europa Filmes. Porém foi lançado um compacto incluindo dois temas do filme e chegou a ser lançado no mercado argentino o filme em versão VHS.
Existente somente em VHS copia essa
que está na íntegra no YouTube com uma qualidade de imagem bem desgastada com o
tempo, Atrapalhando a Suate é uma preciosidade que infelizmente é pouco
lembrada pelo publico de hoje. Um filme que foi realizado no intuito de
rivalizar com o do ex – companheiro, mas que mostrou ser um equivoco e que para
alivio de todos provou que em time que está ganhando nunca deve se mexer e que
os trapalhões sem a clássica formação não é a mesma coisa.
Fontes de Pesquisa:
Sites:
www.discogs.com.br
www.discogs.com.br
www.memoriaglobo.com
Imagens:
www.memoriaglobo.com
www.memoriaglobo.com
www.discogs.com
www.mercadolivre.com
www.mercadolivre.com
www.youtube.com
Livros:
Barreto, Juliano. Mussum Forévis: Samba, mé e Trapalhões. São Paulo: LeYa, 2014.
só fã dos trapa, mas entre o trapalhão na arca de noé e atrapalhando a suate, fico com o filme fo trio DEMUZA. é mais engraçado!!!
ResponderExcluirÓtima publicação e disponibilização de imagens dos encartes, parabéns. Ficamos na torcida por encontrar uma cópia melhor do filme.
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