OS 20 ANOS DO REMAKE DE PSICOSE 1998 - Parte 2

#Mofista13: Analise crítica e os bastidores da refilmagem de Psicose 




A trama de Psicose de 1998 segue a risca o mesmo roteiro desenvolvido por Joseph Stefano escrito por ele em 1960, baseado no livro de Robert Bloch.

A secretária Marion Crane (Anne Heche) apropria – se de 400 mil dólares da imobiliária onde trabalha. Ela deveria depositar este dinheiro num banco, na trama o dia em se passa os fatos é uma sexta – feira, e posteriormente ir para casa, já que ela alegou ao seu chefe que estava acometida de uma forte enxaqueca, no entanto ela se apropria desta quantia com intuito de pagar as dívidas de seu amante, Sam (Viggo Mortensen). Certa que esse crime seria percebido após o final de semana ela não contava encontrar seu chefe no instante que ela estava fugindo e temendo ser descoberta ela sai dirigindo sem destino pelas estradas, quando se inicia uma tempestade e vai parar no Motel Bates de propriedade de Norman Bates (Vince Vaughn).






Após se hospedar em um dos quartos do motel, ele a convida para tomar um lanche e conversam sobre diversos assuntos, principalmente a relação de Norman com sua conflituosa mãe que vive na casa atrás do motel. Ela aparentemente arrependida da encrenca que se meteu ela resolve resolver tudo na semana seguinte e resolve tomar um banho no seu quarto. No chuveiro ela é brutalmente assassinada por uma figura feminina, a qual não vemos seu rosto devido a uma penumbra que encobre sua face, mas que tudo indica ser a mãe controladora de Norman.












Preocupada com o desaparecimento da irmã, Lila Crane (Juliane Moore), faz de tudo para tentar encontrar a então desaparecida Marion, juntamente com Sam e o detetive Arbogast (William H. Macy).








A produção orçada em 60 milhões teve sua produção iniciada no Verão de 1998. Talvez calcada na onda iniciada com Pânico de Wes Craven dois anos antes e germinador de vários subtítulos que surgiram depois como Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado e Lenda Urbana e posteriormente suas continuações, Gus achou que pegar um clássico de Hitchcock poderia injetar um novo gás no cinema de horror que estava até aquele momento em franca decadência e se revitalizou com os títulos citados anteriormente.






A diferença é que Psicose seria uma refilmagem mais milionária, tendo uma major como a Universal por trás de toda produção, distribuição, publicidade e contando com atores mais famosos do grande público. Até o trailer deste dava a impressão de ser uma refilmagem com novos elementos para despertar o interesse do publico jovem que talvez não conhecesse o filme original ou que nunca teve contato ou interesse com a clássica produção dirigida por Hitch. Só que o efeito foi o contrário, o filme se tornou apenas a sombra do original e não despertou o frisson dos cinéfilos, além de despertar severas críticas que afundaram com qualquer proposta de uma provável sequência, caso este alcançasse o sucesso esperado.




O jornalista Tony Lucia do jornal Reading Eagle disse na sua matéria de 9 de dezembro de 1998 intitulada: “Novo Psicose não funciona muito bem”.


“Era uma idéia intrigante uma refilmagem cena por cena do filme clássico de 1960, utilizando o script original de Joseph Stefano, as contagens originais de Bernard Herrmann (1911 – 1975), a abertura do design Saul Bass (1920 – 1996) e alguns dos set originais. Mas julgando pelo seu fracasso, Psicose de Van Sant, é improvável que esse feliz refilmador de Hollywood irá para qualquer lugar nesse futuro próximo.”








Muitas dessas críticas vieram justamente ao encontro de um fator comum a todo remake, a comparação com sua obra original. O filme foi realizado usando o mesmo cronograma feito por Alfred em 1960. Fotograma a fotograma, até a esperada cena do chuveiro que poderia ser o grande momento de impacto do filme, tal qual ocorreu da década passada e que se tornou uma das cenas mais emblemáticas do cinema mundial se perdeu no meio de uma trama que aparentemente queria subverter a lógica implícita que existia em sua estética mais sombria.

Guilherme Z. do Blog Acervo do Cinema enfatiza justamente o problema com a identificação do publico atual com aquele que assistiu sua primeira versão:

“Embora tenha se esmerado a seguir todos os passos de Hitch, falta uma aura própria a esta fita. Pode ficar estranha sensação de estar vendo uma cópia colorizada do clássico com o acréscimo de versões alternativas de algumas cenas (...) O empecilho paras as novas platéias pode ser o fato de que a tensão oferecida não é no estilo que estão acostumadas e provavelmente fantasiavam acerca de um personagem que virou símbolo de vilania. Quem esperava ver um sádico serial killer colecionando corpos com certeza vai se decepcionar, ainda que fique no ar que assassinatos são corriqueiros na história da rotina do motel Bates.”

Outro fator agravante e que claramente seria determinante ou não para seu sucesso ou fracasso viria ser a comparação do elenco do filme original com o deste remake. Houve divergências entre os críticos com relação à atuação de Anne Heche, Juliane Moore e principalmente de Vince Vaughn, ainda mais por este não conseguir personificar a figura obscura e sombria de Norman magistralmente interpretada por Anthony Perkins (1932 – 1992).






Anne fez uma Marion Crane segura, com sua identidade própria, isso porque a atriz nunca havia assistido ao filme original até participar deste, mas não trazia os traços dubios marcantes da Marion de Janet Leigh. Juliane Moore trouxe uma agressividade para Lila, contudo não encontrei algo que mostrasse que ela fosse lésbica, para os críticos esse detalhe se tornou mais evidente.

Amir Labaki da Folha de São Paulo descreve assim as atuações do elenco na sua crítica: “Psicose volta explícito e gay” de dezembro de 1998.

“O Psicose original ainda explode de erotismo. Sexo, e não dinheiro, é o centro do filme. Anthony Perkins transforma Norman Bates num vulcão de sexualidade indefinida e represada. Substituindo Perkins, Vince fez de Bates um gay afetado e insatisfeito, com roupas justas e risinho histérico. Lila Crane, a irmã que investiga, ressurge em versão lésbica na pele de Juliane Moore.”

Já o célebre crítico americano Roger Ebert (1942 - 2013), ponderou um tanto a atuação de Vaughn numa critica feita por ele em dezembro de 1998 e postado no site Ebert Club.

“Um problema é o vazamento de Vaughn no papel de Norman Bates. Ele não é estranho suficiente. (...) Anthony Perkins, no original, fez com que parecesse compulsivo, surgindo de algum tipo de loucura secreta (...) Possivelmente nenhum ator poderia ter igualado a performance de Perkins, que é uma das criações únicas do cinema, mas Vaughn não é o ator a tentar.”





Contudo Psicose não foi um sucesso nem nos cinemas americanos e muito menos nos cinemas brasileiros, sua exibição na TV aberta ficou relegada ao Supercine e ao Corujão, na TV a Cabo talvez tenha dado as caras por lá algumas vezes, mas nunca cheguei encontrar registros oficiais. Depois desse filme, o qual Gus foi indicado à Framboesa de Ouro de Pior Diretor, o reencontro com sucesso com o drama Encontrando Forrester (Finding Forrester) de 2000 com Sean Connery, que obteve uma boa recepção do publico e da critica.



Talvez o que faltou em Psicose foi algo que ele aparentemente prometia e não cumpriu. Uma visão nova da obra icônica dirigida na década de 60. Um Norman Bates mais serial killer, do nível de Michael Mayers de Halloween H20 ou do Goshtface de Pânico, filmes que por mais que seguissem a linha slasher tradicional e que arrecadaram milhões com um roteiro raso, cheio de falhas e repletos de estereótipos que vinha de encontro ao publico jovem.

"Refilmei Psicose praticamente cena por cena e colorido para que ninguém quisesse refazê-lo.", decretou Gus Van Saint.


O Psicose de 98 refilmado cena a cena, quadro a quadro e com elemento “cor” não se tornou um elemento que fizesse de seu filme nem uma homenagem e muito menos uma afronta ao clássico de Hitch, como muitos críticos de cinema em sua maioria afirmou ser. Ele serve como uma simples distração mais pelo fato de saber como seria o filme se ele tivesse sido realizado a cores. A obra original continuará sempre marcada pelo charme do estilo noir e macabro, algo que Alfred Hitchcock trazia para seus filmes, sem fazer nenhum esforço.




Recomendo a todos que assistem as duas versões e tirem suas próprias conclusões, afinal é sempre interessante saber que não é só os brasileiros que fazem remakes de grandes obras e que infelizmente não vem de encontro ao grande público. Pelo menos a tentativa foi válida.





Fontes de pesquisa:

Sites:

psicosefans.blogspot.com
tocaoterror.blogspot.com
acervodecinema.blogspot.com
www.rogerebert.com
www.arte.it
www.imdb.com

imagens:

Google imagens

video:

www.youtube.com
Trailer "Psycho",todos Direitos Reservados à Universal Studios. Copyright (1998)

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