Bebê a Bordo e outros segredos da tresloucada história de Carlos Lombardi - (Parte 2)

#Mofista10: Os cortes da novela no Viva e mais algumas curiosidades de bastidores da trama.

Boa noite Amigos Mofistas.

Logo novo do Viva, feio foi o que fizeram com seu público.


O Canal Viva chegou aos seus oito anos de existência, ele entrou no ar no dia 18 de maio de 2010, mas sem motivos para comemorar. Bebê a Bordo novela que é exibida desde janeiro causou controvérsia a partir do capítulo 91, em 30 de abril, quando o canal começou a compactar os capítulos, resumindo até 11 episódios em cinco, numa atitude inédita que irritou seus telespectadores. A emissora alegou que a novela estava tendo pouca repercussão nas redes sociais e não estava entre os programas mais assistidos no ranking do canal.


A atitude pegou o seu público fiel de surpresa, nunca em seus anos de existência o Viva editou uma novela sua. Sempre se gabaram pelo fato de todas os programas seres exibidos na íntegra, mesmo com a aparição de merchandising de marcas famosas, algumas delas nem existe mais no mercado, não são cortadas de seus programas por isso a revolta e a indignação do público que iniciou campanhas nas redes sociais com as hashtags #BebeABordoSEMCORTES ou #BebeABordo.



O melhor do Brasil é o brasileiro. Acima o aviso oficial do Viva falando sobre os capítulos editados da novela, abaixo montagem dos internautas pedindo a novela na íntegra.


Para muitos críticos essa atitude tem uma vertente, que não deixa de ser controversa e ao mesmo tempo inverdade. Sugere que a onda de conservadorismo que tem tomado ultimamente os programas da TV aberta tenha chegado à TV a cabo. A novela de Carlos Lombardi usa e abusa de referências e conotações sexuais e usando frases de duplo sentido, o amor livre entre parceiros, tudo num texto crítico e ácido com uma pegada pop, numa célebre alusão ao humor cômico da série Armação Ilimitada, onde até figuras políticas são mencionadas em tons de deboche.

Aliás, em entrevista ao TelePadi da jornalista Cristina Padiglione no site da Folha de São Paulo, o próprio Carlos Lombardi temia que boa parcela do público não se identificasse com sua novela. Ele disse:

Carlos Lombardi, gênio incompreendido.


“Acho que a novela não envelheceu. O mundo envelheceu.”


Ainda sobre o mesmo raciocínio ele comenta:

“Eu descobri que o mundo está datado, o mundo envelheceu muito, com essa coisa de que tudo não pode tudo é indelicado... A novela é leve, uma brincadeira com o nenê, todo mundo correndo atrás do nenê. O mundo ta muito bobo, muito cheio de auto-sobrevivência (...) Os anos 80 eram anos em que começava a mudança daquela família nuclear, e o que a novela pega é exatamente isso.”

E sentenciou com grande sabedoria, que lhe é peculiar quando lhe perguntado se Bebê a Bordo seria uma novela das onze da noite, hoje atual supersérie que a Globo exibe nesse horário tardio.

“Acho que seria um bom seriado na Netflix. Se você quer a encarnação atual, seria melhor lá.”

O mais engraçado dessa história da edição remendada da novela do Lombardi feita pelo Viva foi à queda de Roda de Fogo, que chegou a ser divulgada pela imprensa como substituta oficial de Explode Coração, novela que está sendo exibida na faixa das 23h30 do canal. Em seu lugar eles exibirão A Indomada escrita por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares exibida oficialmente em 1997.


Não vai ser agora que teremos um Lauro César Muniz em forma de novela no Viva. 


Roda de Fogo novela escrita por Lauro César Muniz e Marcílio Moraes já discutia em 1986 a corrupção no nosso País, crimes do colarinho branco e questões éticas num texto maquineísta, mas marcado como um folhetim puro, considerado pela crítica uma dos melhores textos para TV na época. O motivo dessa queda ainda é mistério, tal qual envolve a substituta de Sinhá Moça que também foi divulgada pela imprensa que seria Brega & Chique escrita pelo mestre Cassiano Gabus Mendes do ano de 1987. Com essas mudanças repentinas que o Viva tem passado não se pode mais criar expectativas dessa reprise. Muito menos se elas serão exibidas na íntegra, se editaram Bebê a Bordo, nada custa eles editarem as próximas novelas do canal.




Será que vai rolar Brega &Chique? Será que vão editar a abertura da novela pra não vermos a bunda do Vinicius Manne? 


O que ninguém sabe é que em 1988, quando a Censura aos meios de comunicação chegou ao fim, as emissoras de TV tiveram que readequar seus programas, inclusive as novelas para que a onda de liberdade que a Nova República permitia propagar.

A matéria "Nova ordem no vídeo" da revista Veja de 12 de outubro de 1988, mostrava qual seriam os mecanismos para que o uso de palavrões e cenas de teor sexual mais avançado não chocasse os telespectadores. Roberto Marinho presidente e diretor – geral da Rede Globo reconheceu em entrevista:

“Acho realmente que nos últimos meses, a televisão brasileira enveredou para um caminho meio apelativo, inclusive a Globo.”

Roberto Marinho, muito além do Cidadão Kane.

Como a emissora detinha naquele período, e ainda detém a maior audiência da TV a crítica considerava a emissora a “campeã em audiência e a campeã em calão”. Para isso o próprio Roberto Marinho escreveu um documento de sua autoria com o título “Responsabilidade e sensibilidade”, que estabelecia normas para corrigir o que ele considerava “desvios de forma e conteúdo em alguns de nossos programas de entretenimento. Isso após ele notar uma euforia com o fim da censura, ressaltando a máxima atenção para que a busca de originalidade não leve os profissionais da Rede Globo a ultrapassar os limites que um veículo de massa como a televisão impõe.

Esse documento estabelecia três proibições que deveriam ser seguidas a risca para que não voltassem a ocorrer dentro da programação global naquela época.  Primeiro seriam eliminados os termos de baixo calão e a linguagem vulgar, segundo deviam- se banir do ar o erotismo vulgar e a violência exacerbada e por fim que as críticas às personalidades conhecidas, em grande maiorias políticos, mesmo em programas de humor não poderia ser ofensiva.

Ao fim do documento Roberto Marinho ressalta essas mudanças com a seguinte frase:

“Não se pretende, em qualquer momento, cercear a criatividade, mas sim convocar todos para um exercício mais apurado de responsabilidade e de sensibilidade.”

Com essa cartilha nenhuma produção da casa, novelas e humorísticos seria iniciada sem a supervisão do então diretor de operações da Globo na época José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Se os textos, sinopses após apresentados a ele não fossem aprovados, poderiam ser modificados ainda na edição e na sua sonorização.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni. O homem do "Padrão Globo de Qualidade". #VoltaBoni

Porém de nada adiantaria essas proibições valerem internamente na emissora se até aquele momento a justiça ainda não tinha criado e aprovado uma lei formal para inviabilizar a apresentação de determinados programas em horários específicos. 

Com isso a reportagem classificou como “buraco negro” o período que se iniciou na quarta - feira com a promulgação da Constituição que proíbe a censura e o dia  em que a legislação irá estabelecer os de veiculação dos programas segundo horários e faixa etária. Enquanto isso a Censura estava firme e forte para frear a clareira aberta pela nova legislação. Uma clareira que estava repleta de gente nua e proferindo sonoros palavrões. A matéria disse que a Globo havia exibido dois palavrões no programa TV Pirata e outros dois no Chico Anysio Show.

Também mencionou que durante um capítulo da novela que ia ao ar às 7 da noite, o personagem Rei (Guilherme Fontes) chegou em casa depois de passar a noite com Glória (vivida pela atriz Françoise Fourton), contou suas impressões para o irmão Rico (Guilherme Leme), e, em questão de minutos, escandiu nada menos que uma dúzia de metáforas sobre um ato sexual, boa parte delas com a leveza de um hipopótamo necessitando urgentemente de um regime.


Quem tá afim de levar uns coelhos dos irmãos Rico e Rei? 

Sobre a personagem Ângela (Maria Zilda) ela já começava a caminhar para se tornar uma mulher emancipada, dividindo suas atenções entre Tonhão (José de Abreu) e seu ex-noivo Antônio (Rodolfo Bottino), com certeza a matéria se refere à fase em que ela é disputada entre os dois, sem a necessidade dos clipes eróticos o qual mostrava Ângela sendo perseguida por um homem desconhecido ao som de Mordida de Amor do Yahoo que permeou boa parte da trama em seu inicio e que teve que ser amenizadas devido à ação da Censura.

Ângela e Tonhão. Branco é a cor mais quente.

Contudo isso não abalou a audiência da novela que conseguia marcar índices maiores do que sua antecessora, Sassaricando e era elogiada por manter um ritmo frenético, uma direção eletrizante que davam um ritmo de série ao texto inovador e inteligente de Carlos Lombardi com a colaboração de Luís Carlos Fusco.

Pena que o público de hoje não se identificou com a obra fazendo com que a novela fosse a primeira a sofrer essa retaliação, tudo isso para que Vale Tudo, obra atemporal de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères estréie em junho nas comemorações dos seus 30 anos da sua exibição original em 1988 e que já foi exibida no próprio Viva quando o Canal iniciou suas atividades em 2010. O único senão é o fato da novela ter estreado em maio de 1988 e sua reprise vai voltar somente em junho. Bola fora do Viva.

Um brinde ao retorno de Vale Tudo, só que no mês de aniversário errado.


Sendo assim há de se lamentar essa atitude e esperar que a próxima trinca de atrações não seja editada caso não atinja os números que ela almeja. Para quem tem uma conexão de banda larga de qualidade a opção é ver os capítulos de Bebê a Bordo na plataforma do canal na internet e aproveitar que todos os capítulos estão disponíveis, mas por pouco tempo, diga-se de passagem.

Assim encerro esse texto com uma frase de Dina Sfat, a Laura da novela que em seu último grande papel na TV deitou e rolou quando estava em cena, numa dobradinha magnífica com Ary Fontoura (Nero). Parece que Lombardi sabia que essa seria o canto do cisne dela  e a presenteou com diálogos maravilhosos onde claramente vemos a atriz se divertindo em cena.

Dina Sfat, disse tudo em poucas palavras. 


“É uma novela em que novos fatos acontecem a cada instante, um besteirol muito bem escrito.”

Fonte de pesquisa:

Sites:

telepadi.folha.uol.com.br
acervoveja.com.br
teledramaturgia.com.br
memoriaglobo.com.br
uol.com.br

Imagens:

memoriaglobo.com
terra.com.br
uol.com.br




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